As olimpíadas de Tóquio têm sido noticiadas como a mais sustentável da história. Isso se deve ao fato de algumas iniciativas realizadas pelo comitê olímpico em favor da redução do impacto ambiental do evento, dentre elas, aderir aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS como modelo de plano de ação para um mundo mais justo e sustentável.
Com o conceito “Seja melhor, juntos, para o planeta e as pessoas”, os jogos olímpicos de 2020 em Tóquio, realizados apenas em 2021 devido a pandemia mundial de covid-19, trouxeram novidades que se tornaram modelo de soluções e também, destaque para os desafios globais de desenvolvimento sustentável no Japão e no mundo.
Das 43 instalações destinadas à realização dos jogos, 25 foram as mesmas de quando o Japão sediou o evento em 1964. Os locais foram adaptados para permitir a redução do consumo de energia e apenas 8 novas construções foram executadas. Outras 10 estruturas construídas para os jogos serão temporárias, uma medida para minimizar os custos e o consumo de energia.
Outra iniciativa interessante veio da população japonesa, que doou quase 79 mil toneladas de aparelhos eletrônicos como telefones celulares que foram reciclados, permitindo que as 5.000 medalhas pudessem ser confeccionadas com os metais obtidos nesse processo. A tocha olímpica e também os pódios foram feitos de alumínio e plástico reciclado. As camas dos atletas são de papelão reciclado e, de acordo com os organizadores, 99% de tudo que foi destinado ao evento é reciclado, reutilizado ou alugado, no caso de computadores, mesas e cadeiras. Boa parte da energia disponibilizada para o evento é proveniente de fontes renováveis como painéis solares e energia de biomassa de madeira. Há também a participação no programa na compensação de carbono.
Apesar de toda a divulgação do comitê olímpico, um estudo publicado na revista Nature fez uma análise sobre a sustentabilidade nos jogos olímpicos e apontou que a sustentabilidade geral do evento é média. Dentre os outros jogos avaliados, Salt Lake City 2002 foi considerado o mais sustentável, enquanto Sochi 2014 e Rio de Janeiro 2016 foram os menos sustentáveis.
Segundo David Gogishvili, um dos coautores da pesquisa, “A maioria das medidas que foram incluídas nesta Olimpíada, e as que foram particularmente mediatizadas, têm um efeito mais ou menos superficial” e acrescenta: “os esforços que o Comitê Olímpico Internacional está fazendo são importantes, mas são limitados e insuficientes. Do meu ponto de vista, a menos que eles limitem fortemente o aspecto da construção e o tamanho geral do evento, eles sempre serão criticados por greenwashing.”
Mas como um evento desse porte pode ser de fato amigo do ambiente? Segundo Masako Konishi, líder do projeto de clima e energia do World Wildlife Fund Japan, “usar plástico reciclado para construir pódios é uma boa vitrine, mas não deixa nenhum legado para a sociedade japonesa, já que eles não proibiram o uso desses plásticos”.
Ainda sobre a pesquisa, os autores sugerem que fatores como a alternância entre as mesmas cidades que já sediaram os jogos olímpicos e aplicações de padrões de sustentabilidade independentes são medidas que de fato impactarão positivamente no nível de sustentabilidade dos jogos olímpicos.
Natalia Rodrigues é carioca, colaboradora do Green Nation, graduada em Ciências Biológicas e especialista em Engenharia Ambiental e do Saneamento Básico. @natalia.rodriguesc