“Estrada segura para todos!”
Esse foi o pedido feito, no dia 15 de maio de 2023 em Campo Grande (MS), por ambientalistas que organizaram um protesto a fim de pressionar o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) a dar andamento ao projeto de mitigação de acidentes com animais silvestres na BR 262 – que corta o Pantanal Sul Mato Grossense – chamada popularmente de “Estrada da morte”. O local é conhecido por diversos acidentes fatais, nos quais pessoas e animais perdem a vida diariamente. O objetivo foi chamar a atenção dos órgãos públicos e da população para solucionar esse problema, que é uma realidade em diversas estradas que ligam o Brasil.
Espécies como Tamanduá-Mirim, Lobo Guará, Tatu, Tamanduá-Bandeira, Cachorro do Mato, Quati, entre outros animais mortos encontrados na estrada – atropelados – foram expostos em frente ao DNIT, uma espécie de “Já que vocês ignoram o problema, então resolvemos trazê-lo até aqui”. O que de fato chocou os funcionários e a população que passava pelo local.
De certo, o propósito, além de evitar mortes de pessoas, é preservar a fauna local que atravessa as estradas – antes seu habitat – para seguir seu processo ecológico, mas acaba sendo vítima de atropelamento. Essa redução em massa da população da fauna local causa um prejuízo ao ecossistema do Cerrado e à zona de transição do Pantanal, às vezes irreparável.
Eu e alguns colegas de turma do curso de Ciências Biológicas estivemos lá para apoiar o movimento a convite de Gustavo Figueiroa, biólogo e um dos ativistas organizadores do protesto. Pedimos respostas, mostramos a angústia da fauna pantaneira com placas, adesivos, e a imprensa de Campo Grande esteve lá para relatar o movimento. O pedido para diminuir as colisões foi a implementação de passagens de fauna (feitas por cima ou por baixo das rodovias), em pontos de maior risco, e cercas direcionadoras, radares de velocidade, sinalização das vias e campanhas educativas.
O Pantanal, a maior área úmida de água doce do mundo, e o Cerrado, passam por um processo de desmatamento, queimadas e caças há décadas, e sempre foram pauta de ambientalistas. O último ato de ativismo na cidade de Campo Grande, foi no dia 13 de novembro de 2005, feito pelo ambientalista Francisco Franselmo, que ateou fogo no próprio corpo para protestar contra a instalação de usinas de álcool na bacia do Rio Paraguai. Ele deu sua vida pelo meio ambiente, pelo Pantanal. Em uma das cartas deixadas por ele, diz “Foi difícil tomar essa decisão de sã consciência. A minha vida sempre foi um sacerdócio em defesa da natureza. É a nossa casa é o presente maior de Deus”. Diante disso, cabe à sociedade lutar pelo meio ambiente, sustentabilidade e principalmente por aqueles que não têm voz: os animais que são vítimas da ação humana. E o mais importante, em memória de Francisco Franselmo, que em uma de suas cartas pediu “…continuem a luta por mim.”
Beatriz Oliveira, colaboradora do Green Nation, graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, e em Gestão Ambiental, conservacionista e apaixonada pela natureza. Linkedin @b.eaolive