Pantanal: a previsão de uma nova catástrofe

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ODS - ONU

No Brasil, encontra-se uma das maiores planícies alagadas do mundo: o Pantanal. Como um dos mais extraordinários patrimônios naturais do planeta, este bioma, presente na região Centro Oeste brasileira, em parte da Bolívia e do Paraguai, possui mais de 650 espécies de aves, 174 mamíferos, 280 tipos de peixes e uma grande diversidade de insetos. Essas áreas úmidas são extremamente importantes para a biodiversidade, pois, abrigam um grande número de espécies endêmicas. Além disso, ajudam no abastecimento de fontes de água doce, como os aquíferos, e são essenciais para a amenização das mudanças climáticas, já que algumas dessas áreas conseguem retirar uma grande quantidade de carbono da atmosfera. 

Apesar de sua importância nacional e internacional, a região pantaneira vêm sofrendo com o avanço das pastagens, aumento das queimadas e com o descaso das autoridades. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas no ano de 2020, ao incendiar 40% do bioma, as queimadas no Pantanal consumiram mais áreas de vegetação que toda a devastação do intervalo de 2000 a 2018, representando, também, um aumento de 200% em relação aos incêndios de 2019. Ademais, em setembro deste mesmo ano, foram registrados 6.048 pontos de queimadas, um recorde mensal histórico. Muitos animais foram encontrados mortos devido ao fogo e os sobreviventes, geralmente machucados, perambulavam em busca de água e comida. “O fogo acabou com quase toda a reserva, eles não têm o que comer”, explicou Carla Sassi, veterinária que atua no Grupo de Resgate de Animais em Desastres (GRAD).

André Siqueira, biólogo da ONG Ecoa, diz que a intensificação dos incêndios em 2020 é uma consequência da diminuição do escoamento dos rios, responsáveis por manter o solo inundado até pelo menos junho. “Não tivemos o pulso da inundação.́ ́ Essa seca histórica se deve ao desequilíbrio climático e hídrico provocado pela destruição do Cerrado e, em especial, da Amazônia, visto que os rios que correm pelo Pantanal têm suas cabeceiras nesses outros dois biomas. Assim, quando mais de 40% dessas nascentes não são preservadas, sofrendo com o desmatamento e a ocupação agrícola, forma-se um conjunto de elementos que levam à diminuição do nível dos rios e impedem a inundação do solo, deixando a região mais propícia a incêndios. 

O avanço das pastagens no Pantanal é outro fator ambiental importante para o aumento das queimadas. Para se ter uma ideia, 59,9% da área pantaneira perdida até 2018 foi convertida em pastagem. Essa conversão ocorre por parte dos pecuaristas, que trocam a vegetação natural por uma mais resistente ao gado. No entanto, esses fatores climáticos apenas agravam e alastram as queimadas, pois a grande causa do início dos incêndios é a ação humana. Uma investigação da Polícia Federal e do Governo de Mato Grosso vem procurando os fazendeiros que podem ter iniciado as chamas em 2020, porém, até o momento, os inquéritos abertos não chegaram aos responsáveis . 

Para 2021 as previsões não são diferentes. Apesar de o índice pluviométrico entre dezembro e fevereiro ter sido dentro do padrão, o Rio Paraguai, visto como o principal indicador hídrico da região, têm apresentado uma recuperação lenta e, de acordo com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), a  Régua de Ladário, na base fluvial da Marinha em Corumbá (MS), demonstra que o rio está em um nível crítico, assim como estava em 2020. Portanto, com a queda no número de chuvas na região Centro Oeste no período de fevereiro a abril e a previsão de que as precipitações se normalizem apenas em junho, já no período de seca, fica cada vez mais provável que em 2021 o Pantanal passe novamente por uma situação de alerta em relação às queimadas. Contudo, mesmo com o risco de se repetir a tragédia do último ano, poucas medidas foram tomadas para prevenir e combater as queimadas no próximo período de seca, que vai de maio a outubro. “O mais preocupante é o atual desaparelhamento dos órgãos de fiscalização”, destaca o Biólogo Luiz Antonio Solino, professor da Universidade de Várzea Grande (Univag), em Mato Grosso. 

Especialistas consideram importante a formação prévia de brigadas de incêndio do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PrevFogo) espalhadas pelo território, a fim de diminuir a distância entre os brigadistas e os focos de incêndio, capilarizando as brigadas e, assim, facilitando seu deslocamento. A construção de torres de observação, investimentos na infraestrutura local, no treinamento e contratação das equipes, compra de equipamentos de proteção individual (EPI ́ s) e de outros materiais importantes, também são apontados como essenciais na estruturação de um plano para que o desastre do ano passado não se repita. Infelizmente, poucas destas ações estão realmente sendo tomadas.

Devido ao caráter criminoso das queimadas, é importante que as chamadas “queimadas controladas´´, prática legal usada na limpeza do pasto, seja conduzida com a ajuda de brigadistas do PrevFogo e com a autorização do poder público, para que possa ser colocada em prática de acordo com as medidas de segurança, impedindo que se perca o controle do fogo. A educação ambiental de proprietários rurais e populações locais é imprescindível nessa luta. Contudo, fiscalizar e punir ações irregulares é fundamental para que a sensação de impunidade não incentive práticas ilegais e desprotegidas. A conscientização acerca da importância do Pantanal, de sua biodiversidade e da sua proteção deve ser a chave para mudar o cenário atual, mas a fiscalização e a estruturação das brigadas é uma forma de garantir que a catástrofe da ignorância humana não consuma, mais uma vez, a natureza pantaneira.

Maria Vitória de Moura é matogrossense, colaboradora do Green Nation, graduanda em Relações Internacionais na Universidade Federal da Integração Latino-Americana e apaixonada pela escrita em todas as suas formas.  LinkedIn



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