Desde antes do desenvolvimento das primeiras cidades a questão do saneamento já era presente. Civilizações antigas desenvolveram formas de eliminar ou afastar resíduos humanos, transportando para poços, cloacas ou latrinas. Esse processo é fundamental para a estabilidade de uma comunidade, porque a falta de saneamento permite que doenças e epidemias, como a peste negra, causem um grande número de mortes. O Rio de janeiro foi a terceira cidade do mundo a iniciar em 1857 a construção de sua rede de esgotos que, na época, enfrentava péssimas condições sanitárias, trazendo consequências como enfermidades oriundas das “valas” próximas às casas e às praias, para onde transportavam manualmente o esgoto doméstico. Neste período a cidade era abastecida por fontes, chafarizes e a distribuição da água era feita pelos sistemas de aquedutos, como o famoso aqueduto da Lapa.
Os anos se passaram mas o mesmo problema ainda persiste. Como garantir quantidade e qualidade da água no abastecimento das populações? Desde a década de 1980 as demandas de uso da água crescem 1% ao ano e prevê-se que continue crescendo nesse ritmo até 2050 totalizando assim números de 20% a 30% a mais sobre os atuais. Essa crescente demanda provenientes de vários setores como industrial, urbano e agropecuário acabam gerando o estresse hídrico sobre os corpos d’água e consequente escassez, prejuízos ambientais e sociais.
Em 2014 o sistema Cantareira, que abastece a região metropolitana de São Paulo, apresentou seu nível mais baixo de água já registrado, nessa ocasião foram realizadas campanhas para redução do consumo. Apesar da crise ser atribuída ao período seco na região, foram apontadas razões como falta de gestão e investimento.
Em janeiro de 2020 o Rio de Janeiro foi assolado diretamente pela crise hídrica, mas dessa vez, relacionada à qualidade da água. Neste período, o abastecimento da cidade forneceu uma água turva com sabor e odor desagradáveis que, mesmo após a filtragem, causava sintomas como diarreia e enjoo em casos mais graves, despontando uma grande demanda por água engarrafada que, em muitos supermercados, teve a venda controlada. Após o silêncio da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) e do governador persistirem, a mídia apontava para a geosmina como fator responsável pela queda da qualidade da água.
A geosmina é um composto produzido por micro-organismos tais como as cianobactérias ou algas azuis, além de outras bactérias com potencial toxicidade. A questão é que, a geosmina é apenas o indicador de que os corpos d’água estão poluídos por esgoto já que estas se proliferam intensamente em ambientes ricos em matéria orgânica, com intensa luminosidade e com baixo fluxo da água, locais estes onde geralmente se encontram os pontos de captação. Outros índices que apontam para a má qualidade da água são os de Coliformes totais e Escherichia coli – bactérias oriundas do trato gastrointestinal de seres humanos e outros animais – que foram detectados acima dos valores permitidos mesmo meses após a crise. O que acontece é que devido à falta de saneamento básico na região, os efluentes domésticos são despejados nos rios, mesmo local onde ocorre a captação pela estação de tratamento.
Em um cenário onde este recurso vem se tornando cada vez mais escasso pelo aumento de sua demanda, sendo sua disponibilidade também afetada pelos impactos das mudanças climáticas, ações como a do Dia Mundial da Água são fundamentais para fomentar a necessária reflexão sobre a relevância do cuidado com esse bem de valor incalculável e a importância de gestões otimizadas e sustentáveis para água.
Natalia Rodrigues (Colaboradora Green Nation)