Vida simples: Entrevista com Luiz Nelson, proprietário da RPPN Fazenda Bom Retiro

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ODS - ONU

 

 

Sabemos que a Reserva Bom Retiro é reconhecida como uma Unidade de Conservação no Brasil. Qual foi a principal iniciativa que esta tomou para manter a biodiversidade e o ecossistema da região em equilíbrio? Qual é o seu papel na manutenção dos cursos d´água?

 
Primeira Reserva Particular do Patrimônio Natural-RPPN do Estado do Rio de Janeiro, a Bom Retiro acumula experiências desde 1993, quando 91% da área total da propriedade foi reconhecida pelo IBAMA Unidade de Conservação. São quase 500 hectares de Floresta Atlântica protegida em estágios primário e de regeneração.

 
Hoje, a Reserva Bom Retiro exerce o importante papel de difundir o conhecimento sobre a necessidade de proteção dos recursos naturais, o que gerou grande visibilidade no cenário ambiental. Inclusive, por se tornar modelo para convencimento de outros proprietários a transformar suas terras em áreas de conservação ambiental. Já são 3 RPPN no distrito de Aldeia Velha.

Esta iniciativa contribui para a manutenção do equilíbrio da vida local. Onde há florestas protegidas, há também água e biodiversidade, além da garantia da perenidade das nascentes, manutenção do clima,  favorecimento à polinização, bem como prevenção à erosão, enchentes e deslizamentos.

 Além disso, as florestas possuem importante papel na manutenção dos cursos d´água. A cobertura florestal possui intensa ligação com o ciclo das águas. O fato de um solo estar coberto por floresta significa que há sempre produção de muitas folhas. Um solo fica pobre por não ter árvore para sua proteção, por isso se torna impermeável à chuva e provoca enchentes. Já um solo com floresta absorve a água da chuva em razão das folhas depositadas no chão, que facilita a drenagem dirigindo-a para os lençóis freáticos. Estes lençóis, por sua vez, precipitarão na superfície em forma de nascentes e carrearão suas águas para os rios que seguem para o mar. Um sistema cíclico infinito de renovação das águas pela evaporação, até virar chuva novamente.

 

Vocês costumam receber muitos visitantes para a prática de ecoturismo. Quais são as principais atrações da Reserva para esse tipo de viagem?

 
Pessoas de diversos lugares e interesses procuram a RPPN. Oferecemos uma estrutura com trilhas na floresta, salão de educação ambiental, sala de vídeo, sala de meditação, quadras de esportes, duchas, rio cristalino com poço para banho.

No Programa de educação ambiental da Reserva Bom Retiro, recebemos estudantes para palestra e caminhada na floresta. Seguimos com os temas: Biodiversidade e Endemismo da Mata Atlântica e Floresta Fábrica de Água.

Além disso, promovemos o Ecoturismo por meio de um sistema de hospedagem que varia, desde camping, hostel, alojamento e pousada.

Estamos abertos à visitação de terça a domingo, mediante contribuição para manutenção do espaço. Aos finais de semana, percorremos: sábados, 9:00h e 15:00h: circuito da floresta; e domingos, 9:00h circuitos da terra cultivada e 15:00h circuito das águas.

Além de preservar a natureza, a Bom Retiro tem a proposta de alinhar a sustentabilidade com o cotidiano. Me fale um pouco sobre essa proposta.

 
Na Reserva, trabalhamos em grupo a partir das práticas naturais de saúde com a Alimentação Viva e princípios da Agroecologia.

Na vida diária, desenvolvemos a produção doméstica de alimentos através do uso da horticultura orgânica associada com a homeopatia rural e a radiestesia, sistemas agroflorestais, jardins comestíveis, além da Alimentação Viva. Priorizamos a bioconstrução e fabricação de sabão ecológico, em respeito à saúde do corpo e do ambiente.

Divulgamos, ainda, práticas naturais com o propósito de valorizar o auto-cuidado, como meditação, desjejum com suco de clorofila, exercícios físicos ao ar livre, uso medicinal da argila, ervas medicinais, escalda pés, banho de rio, caminhada na floresta, entre outros.

Tais atividades são apresentadas ao público em geral no formato de visitação, vivências, oficinas livres, encontros, além dos programas de voluntariado e de estágio em aperfeiçoamento em alimentação viva.

 

A alimentação também é um ponto em destaque entre as atividades da RPPN. O que é o alimento vivo e que benefícios essa dieta tem a oferecer à saúde humana?

 
Para nós, não se trata de um hábito alimentar, muito menos de uma dieta. A Alimentação Viva traduz um estilo de viver que acompanha os ritmos ecológicos. O princípio básico da Alimentação Viva considera alimento como tudo aquilo que mantém a vida. Isso significa que nos alimentamos da força da vida, o que os físicos modernos chamam de energia vital.

 Alimentos vivos são vegetais que possuem campos com a energia armazenada durante a fotossíntese.  Devem ser consumidos ainda crus, pois tanto o fogo como o resfriamento destroem este campo de energia e eliminam sua vitalidade. Neste contexto, sementes germinadas e brotos são considerados alimentos biogênicos, pois aumentam a vida que existe dentro de nós.

A culinária viva, desse modo, surge como uma prática associada ao estilo de viver com a Alimentação Viva. Somos uma Unidade de Extensão do Projeto TERRAPIA ENSP/CSGSF/Fiocruz – Alimentação Viva na Promoção da Saúde e Ambiente. Oferecemos espaços de aprendizagem para a pesquisa com a vida simples, a culinária viva da floresta, além das práticas de auto-cuidado no estilo de vida biogênico.

 

Fala- se bastante em agricultura orgânica atualmente, e um dos modelos presentes na RPPN é a agrofloresta. Como funciona esse método de cultivo?

 
Organizamos nossos sistemas de plantio para agregar a produção orgânica à função principal de regenerar ecossistemas. Combina-se aqui a ecologia das paisagens com a composição de espécies da flora nativa associadas a gêneros alimentícios.

Na RPPN Bom Retiro, utilizamos esta prática, sobretudo, como modo de viver. Para nós, este modelo de agricultura é desenvolvido em harmonia com os sistemas vivos e, portanto, não-utilitarista. Trata-se de uma agricultura solidária com a terra que organiza o lugar como um sistema dinâmico. Enriquecemos o solo com espécies que criem condições adequadas para conduzir ao equilíbrio ecológico original.

Trabalhamos com restauração da cobertura florestal e recuperação das paisagens, em áreas anteriormente ocupadas por pastagens. Nestes sistemas produzimos para consumo doméstico: abóbora, banana, palmito pupunha, palmito jussara, mandioca, batata Yakon, cúrcuma, limão, laranja, tangerina, inhame, mamão, côco, jaca, abacate, jambo, cajá, abiu, milho, quiabo, tomate, batata doce. Tudo isso consosrciado com espécies nativas da mata atlântica. Comercializamos somente os excedentes.

Acreditamos que estaremos contribuindo para que o ecossistema se regenere e se perpetue com diversidade, ao mesmo tempo em que produz alimentos, dispensado o uso de aditivos químicos e adubos de origem animal.

 

E sobre a responsabilidade social com a comunidade de Aldeia Velha, quais trabalhos ambientais já foram desenvolvidos junto à população local?

 
Ao longo de 30 anos de promoção da educação ambiental junto à comunidade do entorno na RPPN Bom Retiro, já desenvolvemos diversas atividades para fomentar a cidadania ambiental local e o estímulo ao ecoturismo. Projetos junto à escola, à Sociedade Ecológica de Aldeia Velha e à Associação de Moradores.

Hoje, desenvolvemos um Projeto que reúne a escola municipal Vila de Silva Jardim e a Associação de Moradores de Aldeia Velha- AMAVE. O Grupo de Elite Ambiental é uma iniciativa para conscientização ambiental realizada pelos próprios alunos, capacitados para dar boas vindas a todos que chegam em Aldeia. A equipe conta ainda com a presença da guarda municipal de Silva Jardim durante todos os finais de semana e feriados, o que dá respaldo à ação do grupo para fins de divulgação da prática de cuidado para com os espaços públicos.

Conheça a RPPN Fazenda Bom Retiro

Agenda de Eventos: http://fazendovivo.blogspot.com

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