O brasileiríssimo Açaí

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ODS - ONU

Seja por seu sabor peculiar, seja por seu alto valor nutritivo, a polpa do açaí caiu no gosto popular. E foi o amplo consumo da fruta no país e sua riqueza nutritiva que estimularam o professor Roberto Soares de Moura, pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e reitor do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo), a investigar em laboratório suas propriedades farmacológicas. O resultado não poderia ser melhor: ficou comprovado que o extrato do caroço do açaí é anti-hipertensivo, reduz o nível de colesterol do sangue e diminui a resistência insulínica. O estudo faz parte do projeto “Aspectos Farmacológicos do Extrato do Açaí (Euterpe oleracea Mart.): Efeitos Cardiometabólicos e no Sistema Nervoso Central”, apoiado pelo edital Pensa Rio, da FAPERJ.

Da primeira vez que Roberto Moura estudou o açaí em laboratório, usou a polpa congelada que conseguiu numa lanchonete perto de casa, tamanho o seu empenho em descobrir as propriedades da fruta. Depois de observar seu efeito vasodilatador, o pesquisador conseguiu unidades da fruta inteira com seu ex-aluno de mestrado, o professor Pergentino José Cunha Souza, da Universidade Federal do Pará (UFPA), enviadas via sedex. “Fiz três extratos: um somente da polpa, outro da fruta inteira e um terceiro usando apenas o caroço. Ao verificar a ação vasodilatadora em ratos, para minha surpresa, constatei que o extrato mais ativo foi o obtido do caroço. Ele é mais potente, inclusive, como antioxidante, devido à quantidade e à qualidade de polifenóis – substâncias com ação contra os radicais livres, também encontradas nas uvas viníferas", afirma Roberto.

A partir dessa descoberta, os estudos do pesquisador se concentraram no extrato do caroço de açaí. Depois de uma série de experimentos em laboratório, ele constatou que, por sua ação vasodilatadora, o composto pode ser utilizado como anti-hipertensivo. O pesquisador e sua equipe também conseguiram provar que o extrato diminui o colesterol. E, além disso, reduz a resistência à insulina no organismo. "O extrato tem efeito celular, ativando o transportador da glicose, o glut 4. Nas pessoas com diabetes ou com síndrome metabólica, este receptor da insulina fica meio ‘adormecido’ e acaba não ativando adequadamente o transporte de glicose para o interior das células”, explica. A síndrome metabólica pode ser considerada uma doença da civilização moderna, pois é caracterizada pela associação de fatores de risco, como a obesidade, a alimentação inadequada, sedentarismo, maior incidência de doenças cardiovasculares (ataques cardíacos e derrames cerebrais), e diabetes.

Por suas propriedades, o extrato de açaí pode ter aplicações diversas. Está em testes, por exemplo, o efeito cicatrizante do uso do extrato em forma de pomada. Ao verificar os efeitos antiinflamatório e antioxidante do extrato, o pesquisador também está testando sua utilização como enxaguatório bucal, para tratar periodontites e outras inflamações da boca. "Já firmamos parceria com um laboratório para desenvolver estes produtos."

Certo da ação antiinflamatória e antioxidante do extrato do caroço de açaí, Roberto Moura resolveu testar sua eficácia contra um dos males que atingem milhares de brasileiros: o enfisema pulmonar – doença inflamatória e obstrutiva crônica, em que o tecido do pulmão é gradativamente obstruído, provocada, na maioria dos casos, pelo tabagismo. “Como as causas do enfisema são inflamatórias, associadas a um grande estresse oxidativo, face à grande quantidade de radicais livres encontrados na fumaça do cigarro e ainda, gerados na própria estrutura, estamos testando a eficácia das propriedades antiinflamatórias e antioxidantes do extrato de açaí para reduzir as consequências da doença”, explica.

"Como nenhum fumante tomaria açaí antes de fumar um cigarro, optei por uma solução mais radical. Resolvi misturar o extrato do caroço de açaí ao cigarro”, diz. Para testar a novidade, Roberto Moura fez, durante dois meses, um experimento com ratos de laboratório. Um grupo de animais foi exposto à fumaça de cigarro comum, outro grupo foi exposto à fumaça de cigarro contendo extrato de caroço de açaí, e um terceiro grupo, denominado grupo-controle, foi exposto ao ar ambiente.

“Enquanto o pulmão dos animais expostos à fumaça de um cigarro comum tinha um número de radicais livres elevadíssimo, inflamação profunda nos alvéolos e lesões tipo enfisematosas, os ratos que respiraram a fumaça de cigarro com extrato do açaí quase não apresentaram lesões. E dois meses de fumaça de cigarro representam um período muito longo para os roedores", explicou. Segundo o pesquisador, o trabalho foi apresentado num congresso na Dinamarca e será publicado em periódico científico de circulação internacional.

O pesquisador pretende ver, futuramente, o extrato de caroço de açaí sendo comercializado em diferentes formas – em cápsulas, pomadas ou mesmo no filtro dos cigarros – nas farmácias e lojas do País. Para isso, está procurando laboratórios para estabelecer parcerias. “Além dos comprovados efeitos benéficos para a saúde, uma de suas grandes vantagens será o preço, pois toneladas de caroço de açaí são jogadas fora sem nenhuma utilização. E tudo isso poder ser aproveitado em benefício da saúde”, conclui.

Conheça a FAPERJ.

(fonte FAPERJ)

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