Flores, fontes e bancos reduzem violência em bairro paulistano

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ODS - ONU

Tudo começou com a ameaça de uma árvore cair em cima de alguma pessoa ou carro estacionado na rua Hugo Carotini, no bairro Instituto da Previdência, em São Paulo. O engenheiro José Tadeu Braz, morador da casa de número 401, preocupado com a iminência de um acidente, pediu duas caixas d´aguas que seriam descartadas ao padre da paróquia São Lucas Evangelista, a uma quadra de sua casa. Com alguns amigos moradores, pintou, colocou palets embaixo para que a água tivesse passagem e plantou flores.

Para salvar a árvore, o grupo quebrou o cimento à sua volta na calçada, fortalecendo suas raízes com mais permeabilidade. Dali em diante, a ideia pegou. Mais moradores aderiram e hoje a rua tem dezenas de vasos, duas fontes de água que funcionam com energia solar, um banco para sentar, sensores de iluminação e um trecho do bairro muito mais bonito.

A área, que chegou a registrar cerca de 40 assaltos em 2016, hoje, é zero. O que talvez nem todos moradores saibam, é que por trás da iniciativa estava José Tadeu Braz, experiente engenheiro de tráfego com diversos projetos em São Paulo, havia um conceito, o traffic calming: ruas que privilegiam pedestres, estreitas para reduzir a velocidade dos carros, floridas e bonitas, que convidem ao convívio comunitário. Onde o morador sinta que sua casa começa no bairro.  

 Em outras ruas, é possível ver canteiros nas esquinas e até um pequeno jardim suspenso em uma calçada, com canos de PVC cortados ao meio, repleto de flores. A maioria dos materiais utilizados são de restos de obras, caixas de equipamentos pesados, pneus coloridos. Depois da intervenção, já aconteceram eventos como cafés da manhã coletivos e pocket shows de jazz na rua Hugo Carotini, já que muitos moradores do bairro são músicos.  

Lourival Martins, 64 anos, participa ativamente nessas iniciativas e mobiliza vários vizinhos. Ele e José Tadeu estranham que um grupo de moradores tenham reagido negativamente à iniciativa, dizendo que a intervenção não havia percorrido os trâmites legais já que se tratava de um espaço público. Chegaram inclusive, a reclamar na subprefeitura.

“Hoje o subprefeito apoia nossas ações. Que, além de reduzir a violência, valorizam os imóveis, embelezam o bairro. Não entendemos essa atitude”, conta Lourival, que nasceu no bairro quando não havia asfalto e tudo era muito distante. Um conjunto habitacional onde a solidariedade entre os vizinhos era uma marca, gosta de dizer.

José Tadeu e Lourival fazem questão de pontuar que, apesar da redução de assaltos, a violência tem origem na falta de emprego e da ausência do estado. “Há 30 anos tudo era mais calmo, porque havia mais emprego. Em qualquer lugar. A situação do país leva as pessoas para assaltos de oportunidade porque elas não têm opção”, enfatiza o engenheiro.

Hoje a expectativa, especialmente depois de uma matéria veiculada falando sobre as benesses da intervenção no SPTV (noticiário local da Globo), é que cada vez mais moradores adiram à um gesto de cuidado com suas ruas, seus vizinhos, entendendo que seu bairro já é sua casa. Com entornos cada vez mais bonitos, agradáveis, agregadores e seguros.

Traffic calming – O conceito nasceu na década de 30, no Reino Unido, baseado na ideia de proteger as áreas residenciais do tráfego de passagem. Posteriormente, foi justificado principalmente em razão da segurança dos pedestres e da redução de ruído e da poluição produzida pelos automóveis.

Um estudo do urbanista Donald Appleyard, de 1981, observou que os moradores das ruas com tráfego mais leve tinham, em média, três vezes mais amigos e duas vezes mais conhecidos do que pessoas que moravam em ruas com tráfego pesado.

Nos Estados Unidos, o traffic calming ganhou visibilidade principalmente nos anos 60, por meio da arquiteta Jane Jacobs, que se colocou contra os grandes conjuntos habitacionais planificados de Robert Moses, em Nova York. Para ela, os bairros deviam ser o centro da convivência comunitária, privilegiando as relações, com espaços comuns para encontros, valorizando mais o pedestre do que os carros. Desde 2007, na data de aniversário de Jane, são realizados os Jane Walk, em sua homenagem, com caminhadas de moradores em seus bairros.

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