Em seu livro Aspects of Change, publicado em 1964, a socióloga britânica Ruth Glass utilizou o termo Gentrificação pela primeira vez para descrever as transformações socioespaciais em uma região de Londres. Ela constatou que áreas habitualmente ocupadas pela classe trabalhadora, ganhavam valor imobiliário quando novos moradores de outra classe social habitavam o espaço e faziam alterações nas moradias tornando-as mais distintas. Um outro exemplo ocorre quando há transformação na função do imóvel, que poderia ser uma hospedaria ou espaço com múltiplos moradores e torna-se uma única residência com alto valor de mercado. A palavra gentrificação se traduz do inglês gentrification, gentry – que se refere à grupo com boa posição social, neste caso do Reino Unido, também chamada de pequena nobreza. A terminação “fication” pode-se traduzir como “tornar-se”, logo, transformar uma localidade pobre em rica.
A poluição atmosférica, concentração de pessoas, estruturas de concreto e o efeito estufa, criam concentração de calor em grandes centros, causando alterações no microclima e provocando um fenômeno chamado ilhas de calor. Uma forma de minimizar estes efeitos é através da criação de áreas verdes, parques, plantio de árvores e zonas de conservação. Seguindo os princípios de um movimento urbano mais sustentável, muitos gestores têm promovido o desenvolvimento de áreas verdes que trazem como benefícios, além do conforto térmico, paisagem, espaço para lazer e recreação, além de contribuir para a saúde física e mental da população.
Todas estas vantagens trazidas pelo “desenvolvimento sustentável” hoje também servem de critério para elevar os valores dos imóveis e consequentemente deslocar a população de baixa renda, privando-os de aproveitar a nova condição dos espaços. Nesse processo nasce o termo gentrificação ambiental ou gentrificação verde. Esse fenômeno, antagônico ao esforço de ambientalistas, soma-se a outros elementos no processo de especulação imobiliária. O que é mais grave na gentrificação ambiental é o deslocamento de fábricas e empresas poluentes para regiões em maior risco social e sanitário.
Comunidades de baixa renda, muitas vezes isoladas em periferias, estão mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas e outros prejuízos da degradação ambiental. Situações como a gentrificação ambiental, apesar de supostamente colaborarem com propósitos sustentáveis, estão contribuindo cada vez mais para a desigualdade social em grandes centros. Para cooperar com um desenvolvimento sustentável mais abrangente, não podemos esquecer seus três pilares: desenvolvimento social, econômico e proteção ambiental.
Podemos recorrer aos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que nos orientam a como alcançar e superar as dificuldades em promover sustentabilidade tanto no Brasil como no mundo. Os objetivos incluem, por exemplo, a erradicação da pobreza; fome zero e agricultura sustentável; redução das desigualdades; trabalho decente e crescimento econômico; paz, justiça e instituições eficazes, dentre outros objetivos igualmente importantes. Portanto, se faz necessária a reflexão a respeito da justiça ambiental já que é essencial para a conservação dos espaços, uso racional dos recursos e mitigação dos impactos das alterações climáticas além de garantir um dos direitos fundamentais: um ambiente natural e saudável.
Natalia Rodrigues (Colaboradora Green Nation)