Baseada na mesma tecnologia dos blockchain, a nova moeda virtual pretende incluir 1,7 bilhão de pessoas no mundo que estão fora do sistema financeiro
O Facebook anunciou que até 2020 deve criar sua própria moeda virtual, a Libra. A notícia pode ser muito boa. Segundo Fabro Steibel, diretor executivo do ITS – Instituto de Tecnologia e Sociedade, a inovação financeira pode incrementar a economia criativa, especialmente para 60% da população brasileira que está fora do sistema financeiro. A iniciativa é encabeçada pelo Facebook, e outras tantas organizações que vão de bancos a cartões de crédito, de plataformas de aplicativos e tantos outros.
Steibel, que também é afiliado ao Berkamn Klein Center, da Universidade de Harvard, explica que além de facilitar imensamente transações financeiras, para essa população, a Libra será também uma forma de identificação, tanto para compras, como até para aumentar o acesso a serviços do governo. “Ainda hoje, milhares de pessoas no Brasil e no mundo não possuem documento de identidade. A Libra pode fazer uma grande inclusão digital e social”, argumenta.
Para entender o impacto dessa inovação, Steibel dá como exemplo a dificuldade atual de pequenos empreendedores serem remunerados pelos seus produtos e serviços. Com um sistema de pagamento de mais fácil uso, mais integrado, com menos taxas e mais usuários, uma diversidade de novos produtos e serviços deve surgir. Além do Facebook, a Libra também estará em carteiras digitais no Instagram e no Whatsapp. Uma grande vitrine de possibilidades se abre.
Para ele, a Libra também pode ser um fator muito positivo para ações de sustentabilidade. Por exemplo, no mercado de carbono, que sempre foi complexo para maioria das pessoas. “Se eu sou uma pessoa que tem uma pagada de carbono alta, viajo muito, posso compensar transferindo Libra para projetos ambientais de reflorestamento, desenvolvimento de energia limpa. Hoje, sem uma moeda global, integrada, pequenas soluções como essa tem dificuldade de surgir, mas no futuro, isso deve mudar”.
Outro exemplo é a produção de conteúdo. “Atualmente, um jornalista, um influencer, depende no do número de visualizações no YouTube para veicular publicidade e ter um retorno financeiro. Os canais até pedem contribuição, mas isso significa que o usuário deverá fazer um cadastro, escolher a forma de pagamento, dispor de conta bancária ou cartões de crédito, dispendendo muito tempo e dificultando a transação. Com a Libra, ele paga imediatamente com um botão da sua carteira digital. É um novo ecossistema de transações”, explica.
Para implementar a Libra e torná-la uma moeda estável, o Facebook criou a Calibra. Segundo apresentação do CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, a entidade conta como acionistas nomes impactantes de vários setores: Mastercard, Paypal, Visa, Booking, eBay, Spotify, Uber, Vodafone, Coinbase, Kiva e Banco Mundial das Mulheres. A Calibra terá como missão coordenar e prover de um marco a administração da rede e também dirigir os empréstimos de impacto social em apoio da inclusão financeira.
Mas fica a questão: com mais de 2,2 bilhões de pessoas conectadas à sua rede, a Libra não pode se tornar um monopólio muito poderoso? Para Fabro Steibel, é preciso estar aberto à inovação, ver como ela se comporta, para depois criar mecanismos de regulação adequados. “Quando o Facebook nasceu em 2005, ninguém imaginava que uma rede social conectasse mais de um bilhão de pessoas. Não havia marco regulatório, mas hoje já se discute regras de sua atuação”.