O plástico em tempos de pandemia

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ODS - ONU

Seremos capazes de reverter esta situação? 

Em 2015, um vídeo gravado pela bióloga Christine Figgener na Costa Rica mostrou um canudo sendo retirado das narinas de uma tartaruga marinha, o que comoveu pessoas no mundo todo e deu início a projetos que visavam extinguir o material do dia a dia da população. No Brasil, por exemplo, o Rio de Janeiro foi a primeira cidade a banir os canudos de quiosques, bares e restaurantes. Além disso, até 2020 o item já havia sido banido em oito dos 26 estados brasileiros, sendo Acre, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo. Dos 18 estados onde ele ainda é permitido, em 17 tramita ao menos um projeto de lei para proibi-lo. No âmbito global, mais de 80 cidades, principalmente litorâneas, proibiram a distribuição de canudos. Marcas mundialmente conhecidas também adotaram essa responsabilidade, Disney, Starbucks, Bob’s e outras buscaram medidas alternativas, como canudos de papel ou até mesmo de waffer comestível. 

Produtos reutilizáveis passaram a ser mais frequentes na substituição do plástico. Escovas de dentes feitas de madeira, sacolas ecológicas, canudos e copos feitos de inox e outros materiais mais resistentes surgiram para mostrar que sim, há opções. Porém, o baixo custo também é um atrativo nos derivados do petróleo, a unidade do canudo de plástico custa até 116 vezes menos do que a versão em inox e 8,2 vezes menos do que a de papel. Para aqueles que precisam comprar milhares de unidades, como donos de quiosques e bares, o preço é, com certeza, um ponto muito importante. Em um cenário ideal cada um teria o comprometimento de ter e usar seus próprios itens ecológicos, mas para isso seria necessário muito mais do que proibições, seria preciso conscientização. 

Um estudo do Fórum Econômico Mundial divulgado em 2016 estima que haja 150 milhões de toneladas de resíduo plástico no oceano e que, mantido o ritmo do consumo do material, em 2050 haverá mais plástico do que peixes no mar. Embora pareça que medidas estejam sendo tomadas para contornar essa estimativa, como a guerra ao plástico e projetos como “A década para salvar o Oceano´´, idealizado pela ONU, essa mobilização encontrou uma grande barreira. Desde a necessidade de máscaras descartáveis até o aumento de pedidos de delivery, a pandemia do Coronavírus estabeleceu uma nova relação entre nós e o plástico. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o consumo deste material no Brasil aumentou 25% no último ano, ao passo que a reciclagem desses diminuiu drasticamente, pois apesar de os catadores, em sua maioria, continuarem a realizar a coleta, grande parte das cooperativas e unidades de triagem, para onde estes trabalhadores direcionam o que é coletado, fecharam ou diminuíram sua atuação devido a pandemia, fazendo com que toneladas de plástico sejam encaminhadas diretamente para aterros sanitários. 

Além disso, de acordo com Marcelo Montenegro, Coordenador de Programa e Projetos da Fundação Heinrich Böll, algumas corporações estão aproveitando este momento para estimular a volta de descartáveis já banidos em vários lugares, a fim de  continuar a alta produção destes itens. Entretanto, o plástico, além dos impactos ambientais, é um dos materiais nos quais por mais tempo permanece o Corona vírus. Para mais, em 2020 a Política de resíduos sólidos completou 10 anos sem efetividade. Para Marcelo Montenegro, a carência de processos de reciclagem está ligada a não efetivação desta política, cujo objetivo era justamente reduzir o impacto dos resíduos sólidos sobre o meio ambiente. Acerca dos projetos voltados para a preservação do oceano, estes também foram impactados pelo Corona vírus. O Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar, por exemplo, que seria dividido em 30 ações, visando melhorar a gestão de resíduos sólidos nos municípios, incentivar a implementação da coleta seletiva e combater o lixo no mar, está paralisado desde março de 2020 devido à pandemia e sem previsão de retorno. Os R$ 40 milhões destinados para esta finalidade até agora não foram desembolsados. 

O caminho trilhado até aqui foi difícil e ainda precisa de muitos passos para alcançar uma efetividade satisfatória. A pandemia é, com certeza, um enorme atraso, mas não pode significar retrocessos. Avançar na luta contra o plástico é essencial para o meio ambiente e para as gerações futuras. Neste momento, lutar contra o Corona vírus é prioridade mundial, mas negligenciar outros setores tão importantes como a preservação ambiental é criar um problema cujo tamanho nós não podemos nem imaginar. Seremos capazes de reverter esta situação?

Maria Moura (Colaboradora Green Nation)

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