Em uma matéria de jornalismo investigativo, a Agência Pública fez um dossiê sobre o aumento de volume de água destinado a empresas privadas com contrato com a Sabesp mesmo em tempos de crise. Veja no texto a seguir os detalhes dessa investigação:
Os 24 bilhões de litros que a Sabesp reservou para empresas no ano passado são equivalentes ao consumo de 404.040 pessoas em um ano. O cálculo leva em conta o consumo médio de 166,3 litros por dia e cada brasileiro, identificado em 2013 pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades. É uma população um pouco maior do que a da cidade de Jundiaí (397.965 habitantes), de acordo com a estimativa populacional para 2014 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outros grandes clientes, que assinaram seus contratos antes de 2005, estão fora dessa estimativa por não constarem na tabela.
A quantidade de empresas que assinaram contratos de demanda firme com a Sabesp aumentou rapidamente a partir de 2007. Entre 2005 e 2007, a companhia conseguiu 23 clientes. Na época, era necessário pagar por pelo menos 5 milhões de litros mensais. Com o objetivo de aumentar o número de consumidores, esse limite foi baixado para 3 milhões de litros mensais em 2007. A medida resultou em 40 assinaturas de contrato só em 2008, quase o dobro da soma dos três anos anteriores.
Em 2010, a Sabesp baixou o volume mínimo para 500 mil litros, com a anuência da Arsesp, a Agência Reguladora do Saneamento e Energia do Estado de São Paulo. Isso levou o número de novos contratos a disparar em 2011 e 2012, com 106 e 129 assinaturas, respectivamente. Houve retração em 2014 (69 clientes), mas os contratos continuaram a ser renovados.
Consequência da política adotada, uma característica do sistema é a concentração do uso. Em 2014, as 10 empresas que mais consumiram água foram responsáveis por uma demanda de 5 bilhões de litros. Juntas, essas 10 empresas consumiram mais que outras 367 empresas com menor consumo. Esses dados revelam uma concentração no consumo de água. O gasto de 1% das empresas mais consumidoras é equivalente ao gasto de 60% das empresas que menos consomem.