Agricultura orgânica e agroecologia: o veneno ainda está na mesa?

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ODS - ONU

Durante uma ida ao mercado não é difícil encontrar sessões destinadas à orgânicos ou ítens que carreguem este selo. Nos últimos anos, a agricultura orgânica tem ganhado espaço nas prateleiras. Para ter uma ideia, entre 2010 e 2018 o número de unidades de produção sem adição de químicos aumentou 300% no Brasil e, mesmo com a liberação de quase 300 novos agrotóxicos no ano de 2019, o país movimentou 4 bilhões de reais no setor orgânico em 2018. Porém, segundo o Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), os orgânicos são consumidos por apenas 1 em cada 5 brasileiros, demonstrando que, para grande parte da população, o veneno ainda está na mesa.

O baixo consumo de alimentos orgânicos no Brasil não ocorre por desinformação, visto que, em uma pesquisa realizada pelo Datafolha, 78% dos entrevistados relataram conhecer os males causados pela ingestão de agrotóxicos. Essa mesma pesquisa demonstrou que os fatores que mais dificultam esse acesso são, principalmente, o alto custo de compra e a concentração das feiras orgânicas nos grandes centros urbanos, o que coloca o fabrico longe da realidade das periferias. Para tanto, o Mapa de Feiras Orgânicas do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) possibilita entender melhor como essa aproximação é impedida. De acordo com o mapa, o Sudeste é a área com maior número de feiras orgânicas (336) e quando o foco são as periferias da região, o número de feiras é ínfimo ou inexistente. Além disso, o preço disponibilizado nos supermercados, que poderiam encurtar a distância entre o consumidor e a mercadoria, pode ser até 4 vezes maior do que o cobrado pelos feirantes. 

Esses dados nos fazem questionar o porquê desta anamorfose. Seriam as estruturas de produção as causadoras do alto custo? Bom, acontece que existem dois modelos de produção que atuam no cultivo sustentável, a agricultura orgânica e a agroecologia. O sistema agroecológico difere do orgânico justamente no impacto social que ele procura alcançar. O conceito de agricultura agroecológica vai além do abandono de insumos e transgênicos ao colocar as relações sociais entre consumidores e produtores como uma pauta extremamente importante. A partir disso, a agroecologia procura preservar culturas quilombolas e indígenas, destacar o papel das mulheres no campo, lutar pelo direito à terra e oferecer uma alimentação saudável e barata para a população.

Até o manejo da plantação é diferente. Enquanto grandes produtores podem adquirir o selo orgânico, a agroecologia está diretamente ligada à agricultura familiar, onde famílias administram pequenas quantidades de terra e utilizam da colheita para subsistência e venda de excedentes, sendo agricultor familiar aquele cuja propriedade alcança até quatro módulos fiscais. Para mais, estão entre as práticas mais comuns do cultivo agroecológico a adubação verde, o cultivo em faixas, práticas de conservação do solo e rotação de culturas. Assim, devido ao uso de recursos presentes dentro da propriedade do agricultor, do manejo sustentável e da mão de obra familiar, o preço acaba diminuindo. Contudo, o alcance não é o mesmo, uma vez que, o modelo familiar procura vender em locais próximos à produção, os chamados circuitos curtos.

Mesmo assim, a partir de dados do Censo Agropecuário, a agricultura familiar já é responsável por cerca de 65% do abastecimento interno no Brasil, apenas a sua produção já coloca o país em 8° lugar no ranking de países que mais produz alimentos e, apesar de ocupar apenas 23% da área destinada à agricultura, representa 77% dos estabelecimentos agrícolas brasileiros. Por isso, fortalecer a agroecologia e, também, a agricultura orgânica é dar aos cidadãos direito a uma alimentação saudável e livre de agrotóxicos, além de atenuar essa desigualdade escancarada, algo que só é possível através de preços justos e maior disponibilidade. Com isso, o incentivo financeiro através de investimentos governamentais é   essencial para que a produção sem veneno consiga alcançar outros lugares e chegar cada vez a mais famílias e consumidores. Apoiar essa estrutura é, acima de tudo, entender que não apenas do agronegócio se sustenta o Brasil.

Conheça também a iniciativa Comida de Verdade.

Maria Moura (Colaboradora Green Nation)

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